Estádio da Semana: Alameda

Inaugurado em 27 de maio de 1948, o Estádio Otacílio Negrão de Lima era pertencente ao América Futebol Clube, de Belo Horizonte.

O América, fundado em 1912, inicialmente mandava seus jogos num campo num terreno na Avenida Augusto de Lima, próximo à Praça Raul Soares. No final da década de 1920, mais precisamente em 1929, a prefeitura de Belo Horizonte, com o então prefeito Cristiano Machado, comprou aquele terreno pertencente ao clube, para a instalação do Mercado Municipal de BH, que hoje é o Mercado Central.

Por alguns anos, o América disputava seus jogos no mesmo estádio que os outros grandes clubes da cidade, Palestra Itália e Athlético Mineiro, o estádio do Prado Mineiro, onde hoje é a sede do Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, na Rua Platina, no bairro do Prado. O Atlético, porém, construiu seu estádio no próprio ano de 1929, o estádio Antônio Carlos, no bairro de Lourdes. O Palestra, por sua vez, concluiu as obras do seu estádio Juscelino Kubitschek em 1945, no bairro do Barro Preto. Ainda assim, o estádio do Prado era o maior da cidade.

Com os dois rivais com o seu próprio estádio, o dinheiro da venda do terreno antigo e já com o título de decacampeão mineiro entre 1916 e 1925, o América compra então um terreno na Avenida Francisco Sales, no bairro de Santa Efigênia. E neste local constrói o estádio Otacílio Negrão de Lima. Com o passar do tempo, o estádio ficou conhecido como Estádio da Alameda, por também ter entrada pela Alameda Álvaro Celso.

O estádio foi inaugurado em 27 de maio de 1948, com a realização de uma festividade solene de apresentação do Torneio Quadrangular de Belo Horizonte, cujos jogos aconteceram nos dias seguintes. O estádio recebeu o nome do então prefeito de Belo Horizonte, Otacílio Negrão de Lima (prefeito de BH entre 1935 e 1938 e entre 1947 e 1951), que tinha grande influência e participação dentro do clube. Participaram do torneio, além do América, o Vasco (atual campeão carioca e do primeiro Sul-Americano de Clubes, em 1948 mesmo, e com a base da Seleção Brasileira que jogaria a Copa de 1950), o São Paulo (campeão paulista) e o Atlético Mineiro (campeão do Campeonato da Cidade de 1947 – antecessor do campeonato mineiro). O América sagrou-se campeão do torneio, vencendo o Vasco por 4 a 2, e empatando com os outros dois rivais. Ainda em 1948, o América sagrou-se campeão do Campeonato da Cidade (Campeonato Mineiro), porém só voltaria a conquistá-lo nove anos depois, em 1957.

À época de sua inauguração, o Estádio da Alameda era considerado o terceiro melhor do país, perdendo para o Pacaembu, em São Paulo, e São Januário, no Rio de Janeiro. A capacidade do estádio era de 15.000 pessoas. Na inauguração, o público foi de 12.500 pessoas, sendo 10.652 pagantes, o que proporcionou a maior renda do futebol mineiro até então: 300 mil cruzeiros. Com toda pompa, a Alameda tomou do Prado o título de principal estádio da cidade de Belo Horizonte.

Isso durou apenas dois anos, afinal, já em 1950, foi inaugurado o estádio Raimundo Sampaio, o Independência, construído para abrigar jogos da Copa do Mundo do mesmo ano. Nessa época, o Independência era pertencente ao Governo de Minas Gerais. Depois de 1948, o América só voltaria a ser campeão mineiro em 1957, já no Independência. Assim, o estádio da Alameda ia perdendo aos poucos sua importância.

Com a inauguração do Mineirão, em 1965, o Independência passou a ser posse do Sete de Setembro FC. O próximo título estadual do América só viria em 1971, já no “Gigante da Pampulha”. Ainda na década de 1960, o América entra numa grave crise financeira. Para de investir nas divisões de base e perde grandes talentos, como Tostão e Hílton Oliveira, para o Cruzeiro, que nessa época monta um dos melhores times da história do futebol brasileiro. O América, que já havia sido o maior clube de BH, agora era a terceira força da cidade, perdendo em número de torcedores e também financeiramente.

A crise durante a década de 1960 resultou na venda do terreno do estádio da Alameda em 1973, durante a gestão do presidente Ruy da Costa Val. O América estava ameaçado de ser fechado, tão grave a crise financeira. O déficit era maior a cada mês, sendo que funcionários e jogadores já não recebiam seus salários. Nem empréstimos o América podia receber. Em entrevista na época, o presidente relatou que metade do estádio também já não pertencia ao clube, pois fora desapropriada pela Prefeitura. E era justamente a metade mais valiosa do estádio, a que dava de frente para a Avenida Francisco Sales. Com o passar dos anos, entre 1948 e 1973, várias partes do estádio já haviam avançado a terrenos de outras pessoas, próximas ao local, sendo necessária a ajuda do governo estadual para o América conseguir as escrituras necessárias. Os dirigentes da época lutavam para recuperar a parte que havia sido perdida do estádio.
O estádio em si já era defasado, uma vez que por suas pequenas dimensões (menos de 100 metros) não servia para os treinos do América, sequer para jogos. Abaixo das arquibancadas era mantida toda a infraestrutura do clube: escritórios para os dirigentes e vestiáros, dormitórios e refeitórios para os atletas.

Através de um decreto do então governador do estado de Minas Gerais, Rondon Pacheco, o América pode vender o terreno do estádio da Alameda para o Grupo Pão de Açúcar. No local, foi construído o primeiro hipermercado da cidade, o Jumbo (posteriormente se tornaria Jumbo Eletro, e na década de 1990 viraria o Extra Hipermercados, ainda hoje do Grupo Pão de Açúcar).

Com o dinheiro recebido com a venda do estádio da Alameda, o América construiu sua nova sede social, com mais de 20 mil metros quadrados, no bairro Ouro Preto, além de quitar todas as suas dívidas.

Fontes: Diafragma, Templos do Futebol, Wikipédia e Superesportes.

5 Responses to Estádio da Semana: Alameda

  1. Álvaro castro disse:

    Prezado

    Sou jornalista e pesquisador e gostaria muito de um contato

    projetovestigios@gmail.com

  2. Carlos Paiva disse:

    O América construiu o primeiro estádio de Minas Gerais, e o único com campo gramado em 1922, onde passaram a ser disputados TODOS os jogos do campeonato mineiro, pois o Prado Mineiro não apresentava boas condições.
    Em 1928 o prefeito de BH trocou o estádio do América, e o campo do Atlético, muito precário, por dois estádios que seriam construídos pela prefeitura. Os estádios foram entregues em 1928. O do Atlético completo e o do América, maior, inacabado.
    Em 1948 o América reformou seu estádio, o maior de Minas, e lhe deu o nome de Octacílio Negrão de Lima, Prefeito de BH, na época, e um dos fundadores do América, além de patrono do clube.

    O estádio da Alameda existia desde 1928.

    Carlos Paiva
    Historiador Oficial do América F. Club

    Mais informações corretas:
    carlospaivacoel@yahoo.com.br

  3. Antonio disse:

    Há súmulas na internet onde se lê que o famoso clássico dos 9×2 foi disputado no estádio da Alameda. Porém, a data deste jogo é de 1927, portanto data anterior a construção do estádio. Como se chamava o antigo estadio do America localizado onde é hoje o mercado central?

  4. Terceiro maior estádio do Brasil com certeza não era; haviam vários estádios no RJ com capacidade a partir de 20.000 pessoas.

    • Carlos Paiva disse:

      A afirmação de terceiro estádio do Brasil foi feita por Ari Barroso, em discurso publicado no jornal Estado de Minas, do dia seguinte à Inauguração. Possivelmente por considerar que no RJ havia campos, não Estádios.
      Em relação a isto o América construiu o primeiro Estádio de Minas, em 1922, com campo gramado. Os demais em todo o Estado eram só campos, sem grama. Ao lado do primeiro estádio, e inaugurada com ele, foi plantada também a primeira quadra de basquete de Minas, e uma das primeiras do Brasil.

      Carlos Paiva
      Historiador Oficial

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